tudo o que te transforma é a base da vida, tudo o resto é a monótona repetição do tempo em modo parado, come pão

não és tu que decides quem amas, mas que amor queres ter, não sejas mais patareco que o espantalho do milharal

cada passo que dou a teu lado, invento um infinto de possibilidades, mesmo que sejam só duas

controla o desejo, do mesmo modo que este te controla a ti, no final será só a decomposição dos átomos a tua verdade e paixão

se te vêem dançar, não sabem quantas imperfeições escondes debaixo de um manto de alegria, sorri, estás a ser filmado

pudesses perceber a razão da paixão, e desejarias nunca te apaixonar, mesmo que brevemente, vai descalço

tudo o que alcanças com um braço está à distância de um só infinito, abraça com dois e toda a metafísica será poesia

por momentos o universo pára e és tu, por momentos pensas ser o centro desse universo, não abuses dos momentos, vive

jamais esqueces o beijo quente na carne fria, porque na morte a temperatura é importante, não há almas quentes

um dia, depois de depois de amanhã, perceberás que nunca amaram o teu sorriso, mas a ti, e será tarde

não é a beleza que te preocupa ou ocupa, mas a construção dela, em modo inclinado para a fealdade

quão sarcástico podes ser, se nem o metal corróis, mais que o ferro na tua corrente sanguínea

a falta que a foda te faz, é a falta da ordem que trás à palavra fado, não gemas, canta

navegam na nossa verdade os refugiados, através de um mar de ignorância e salgado por incompetência, não desejes

não sofras a dor alheia, serão dois sofrimentos em que um não tem tempo, manda uma carta registada

quando chegares tarde, lembra-te do sol, é no fim da tarde que é mais idolatrado

agora que as cerejeiras floridas são mais bonitas que o futuro, não esperes que as cerejas sejam mais doces que o passado, come morangos

beija a flor, mas não te esqueças que o pólen é o trabalho da abelha, não queiras ser rainha

transcende o teu entendimento o que te eleva, mesmo que a poucos centímetros da tua alma, não pules

copias gestos já repetidos à exaustão, e aprendes, mas nunca o improviso será a tua verdade

os desaparecidos, serão sempre a memória de um esquecimento

se a metafisica mentir, tens sempre a desculpa que, os sapatos não escorregam

sou abstracto por coerência natural, face à evidência de estar vivo, mesmo quando me posso imaginar concreto

cada tremoço trincado, é um círculo mágico que não acontece, mesmo em histórias de bêbados

em paz encontras as tuas guerras, quando partires não deixes as armas carregadas

podes pedir o céu, mas sabes que atrás dele está o infinito, não abuses

não é profundo quem quer, se nem a broca não fura só o que gosta

sorri, na eventualidade de ser um descuido, haverá sempre desculpa para o cheiro

se houver perfume no teu cabelo, não me imagines careca

a memória atraiçoa-te o juízo, não lembres com julgamentos

se for simples, não te esforces, a barragem eventualmente enche-se de água

não são as quedas dos anjos que magoam, são as crenças que matam os anjos

nunca pudeste voar, nunca pudeste ser pássaro, mas resta-te o ovo cozido no frigorifico

há terraços onde aterrar é levitar, mesmo que tenhas que rastejar

preso a ti, na condição de ser livre, tudo o resto é filosofia política

não busques a tristeza alheia para a tua alegria, come uma alheira e não penses na caça

o macaco chorou, o mundo não soube, mas um galho ficou molhado

a repetição, a repetição, a repetição, a busca da perfeição em infinitos momentos imperfeitos

se poetizas o espaço, o que sobra da folga entre o tempo e a sua falta?

quando o sol se abreviar no horizonte, sente, sente que há dias mais curtos, mesmo que breves

cada passo é uma eternidade congelada num compasso, e nem o neutrino se imagina infinito

se te vires, não te imagines, e dança sempre virado para o que vês

gira, no momento certo em que estás parado, porque toda a gravidade é uma pausa em movimento

como se sente um homem sem braços quando lhe perguntam se é de direita ou de esquerda

tantos que nos vendem verdades, e eu só quero comprar uma que me sirva

não há gato vadio que não deseje um dono, nem que seja só por um dia

hoje filosofamos como há três mil anos, falta-nos é a ignorância do presente e a crença do futuro

há direitos que por serem tão pessoais acabam por ser tortos

são belas as imagens que vemos, porque houve um dia que aprendemos a ver

não mintas ao teu corpo, ele nunca te mente a ti

se roubaram os Faraós das pirâmides, não esperes que te deixem a ti descansar na eternidade

se o mar não chegar para te afogares, não culpes os peixes

os filhos das putas têm mães que trabalham, mesmo em dias feriados

para uns o fado, outros o destino, é fácil, vou-me plantar a ver se cresço figueira

o medo do desconhecido é a ignorância dos afetos

não duvides sem certezas

pensa em quantos homens e mulheres morreram para que tu possas morrer também

a mulher que há trinta e três mil anos gritou de dor, hoje é uma objeto de museu, vou ouvir o seu grito

os dinossauros não conheciam o seu futuro nem o nosso presente, mas com quantos dinossauros falámos

aceita o que és e muda o que não és, come sentado, porque em pé comem os burros e os cavalos

a atração do abismo é o que dá sentido a certas coisas, não dês um passo em frente, salta

as flores surgiram um dia muito antes de nós e estarão connosco no dia da nossa morte, sacanas

cada passo que damos gastamos a sola dos sapatos mas acrescentamos camadas aos calos

o frio que suportas é a lembrança da tua condição de mamífero, não hibernes

a vida às vezes é dura, às vezes mole e outras cheira a narcisos